quinta-feira, 29 de maio de 2014

ADOLESCER - Erros e acertos

Tive a chance de assistir à peça teatral “Adolescer” na noite de ontem (a saber, 28 de maio), e me surpreendi com o trabalho feito em cima do palco feito por aquele grupo de atores. É simplesmente inegável o motivo do sucesso que essa peça alcançou durante seus doze anos de existência. Uma comédia que cumpre seu papel de comédia. Mais do que isso, um conjunto de esquetes que pode ser renovado de acordo com a época apresentada. Porém, como eu não posso deixar o olhar Católico Tradicionalista de férias, me vejo forçado a reconhecer alguns pontos preocupantes que vi no espetáculo. Devido a isso, achei melhor sentar e escrever este post em particular, pois não quis correr o risco de fazer comentários soltos ao vento e ser mal compreendido depois. Dada a explicação, deixo aqui minhas conclusões sobre os principais erros e acertos da peça escrita e dirigida por Vanja Ca Michel. Como critério de apresentação, vou expô-los na ordem em que as respectivas esquetes foram encenadas. Começo pelos erros:
1-PROMOÇÃO DO HOMOSSEXUALISMO: Dentre todos os tópicos, este é o único que não cito pela cena em si, e sim por uma única frase. A esquete tratou da exposição da homofobia, na figura dos três machões que vão zoar a cara do gay do colégio, o qual responde brilhantemente ironia com ironia. Tinha um mensagem e até que foi bem passada, se concordamos em acabar com o preconceito como um todo. Se terminasse ali, não teríamos do que falar. Mas então veio o posterior monólogo da atriz Luisa Ricardo, do qual extraímos o seguinte fragmento: “Homossexualidade não é pecado nem doença”. Primeiro ponto: na esquete inteira percebe-se de longe o cuidado de usar “homossexualidade” em lugar de “homossexualismo”, como se o último estivesse incorreto de alguma forma, contextual ou gramatical. Isso é quase uma assinatura de movimentos pró-homossexualismo. Segundo ponto: afirmar que homossexualismo não é pecado seria simplesmente ignorar o que as Sagradas Escrituras nos mostra em Lv 18, 22 ; Lv 20, 13 ; Dt 22, 5 ; I Reis 14, 24 ; I Reis 15, 12 ; Mc 10, 6 e Rm 1, 24-27 sem deixar qualquer tipo de dúvida. A menos, é claro, que as Sagradas Escrituras não possam ser levadas em conta em “Adolescer”, e apresentar esse pensamento a uma geração inteira educada pelo PT e cuja instrução se baseia nos filtros do MEC é algo realmente preocupante.
2-ESTIGMATIZAÇÃO DOS OTAKUS: É curioso que um espetáculo que busque derrubar rótulos faça uso de uma sátira tão clichê quanto os otakus e as otomes, o que acaba por confirmar uma imagem que há muito eles tentam apagar. Apenas dois segundos de coreografia me fizeram pensar “AnimeXtreme”, e de uma forma tão bizarramente infantil que me fez, por um ínfimo instante, até mesmo sentir vergonha de ter 21 anos e ainda apreciar esse mundo. Quase todos os momentos em que algum personagem ligado à cultura japonesa – ou mesmo à própria geração cartoon em geral – aparecia, o mesmo era um exemplo perfeito de retarda infantil vítima de bullying ou simplesmente deixado de lado no grupo grande. Concordo que os fanboys de Naruto estragaram demais a imagem que o mundo tem dos fãs de anime, mas reforçá-lo em “Adolescer” foi, pra dizer o  mínimo, estranho.
3-ABORTO, O ASSUNTO NÃO RESOLVIDO: Durante doze anos de um espetáculo indiscutivelmente bem sucedido, não sei dizer se a intenção de Vanja era dar respostas às questões mais pertinentes da adolescência. Fato é que todas as esquetes apresentadas em cima do palco apresentavam um problema e uma solução, exceto uma: o aborto. Uma possível explicação pra isso talvez esteja no fato de que a apresentação desse tema se deu de forma mais reflexiva se comparado com os outros temas mostrados. E também de maneira bem simples: um casal que se encontra e a menina revela que está grávida. Os dois param e começam a surgir vozes com ideias, gozações e opiniões diversas. Destaco duas: “Se eu fosse tu, eu tirava” e “Tu teria coragem de matar teu próprio filho?”. Os dois lados devidamente mostrados, sem criar nenhuma espécie de debate. Ao fim, o casal foge, sem nenhuma palavra sobre que atitude tomarão no futuro. Alguém poderá argumentar que, em uma cena posterior, a questão do aborto é enfim resolvida: há um grupo em um elevador que sobe até o terraço de um edifício com a intenção de se matar. Dentre eles, um casal em que a menina está grávida. A ascensorista desse elevador, além de resolver as pendências dos outros suicidas, se oferece pra ser a madrinha daquela criança, salvando-a do assassinato. Não posso levar isso em conta como uma solução mostrada pela peça, porque o foco dessa esquete não era o aborto em si. Este simplesmente embarcou na onda dos outros problemas e foi resolvido por uma terceira parte.
Se eu encerrasse meu post por aqui, muitos começariam a pensar que eu não gostei de “Adolescer”. A verdade é que eu sei apreciar um bom trabalho quando eu vejo um. E mesmo tendo as falhas que mostrei anteriormente, considero que “Adolescer” é sim um bom trabalho. A essência pareceu praticamente intocada durante doze anos, sofrendo alterações tão leves que a passagem do tempo não conseguiu atingi-la. Isso é algo a ser admirado. Dito isso, posso passar aos acertos:
1-A COMÉDIA PURA E SIMPLES: Uma fórmula difundida pelo mestre Roberto Bolaños pode ser identificada em “Adolescer”: o humor que se esconde no mais básico do cotidiano. Exceto nos momentos em que era realmente necessário passar pelos baixos da tragédia, o espetáculo se mostrou extremamente satisfatório em se tratando da facilidade do riso. Nesse ponto é preciso dar créditos ao nome de Anderson Vieira, sem dúvida o ponto alto da noite (sem desmerecer, de forma alguma, a excelente atuação do restante do elenco). As comédias visual e verbal casaram de forma harmonicamente perfeita. Mesmo as poucas piadas previsíveis que vi encaixaram de forma tão natural que o público não tinha qualquer outra opção a não ser lavar a alma rindo.
2-VALORIZAÇÃO DA FAMÍLIA: Nessa atualidade, em que constantemente vemos a base familiar ser atacada ao ponto de quase ser desfeita, é um alívio bem-vindo ver uma defesa da parte de um nome tão poderoso. De todas as mensagens visuais que eu já vi, nenhuma expressou tão bem o que é verdadeiramente o Quarto Mandamento posto em prática do que o final de “Adolescer”. Aliás, família foi o assunto mais recorrente na peça inteira. Mesmo com o apontamento dos problemas mais graves encontrados em um casamento e em um núcleo familiar, foi visível que tudo convergia pra um único ponto: o diálogo aberto e o respeito mútuo. O abraço final foi o exemplo perfeito. Nada mais há a ser dito.
Como eu disse antes, se trata das conclusões de um Católico Tradicionalista em um espetáculo aberto à opinião pública. Mesmo sendo ex-ator de teatro (e sentindo sincera saudade do palco), não poderia avaliar “Adolescer” como um expert da arte. A única coisa que posso dizer como fechamento é: se tiver a chance, vá assistir. Então tu mesmo(a) poderá fazer tuas próprias impressões e concordar ou discordar das minhas palavras.

terça-feira, 20 de maio de 2014

Mais um dia 20 de maio


Temos motivos de sobra pra lembrar do vigésimo dia do quinto mês. Posso citar como exemplos o Primeiro Concílio de Niceia em 325 (com o fim da perseguição aos Cristãos e a criação do Credo Niceno-Constantinopolitano), a chegada de Vasco da Gama a Calecute, na Índia, em 1498, ou mesmo – falando em Vasco da Gama – o milésimo gol de Romário, aquele pênalti contra o Sport, em 2007. Mas eu, particularmente, tenho outros motivos pra ter o dia 20 de maio tão marcado em mim. É algo muito simbólico. Trata-se do dia em que podemos ver a música encontrar as duas pontas do ciclo. O início e o fim. O nascimento e a morte. O aniversário e o funeral. Talvez soe um tanto tétrico, mas eu consigo ver algo de poesia. Pode ser simplesmente por eu ser um fã e conseguir ver algo além das datas. Sim. Mais uma vez Melody e Bee Gees. Agora, porém, com algo muito mais significativo: Maitê Cunha e Robin Gibb.
20 de maio de 1988. Nasce Maitê, uma das vozes mais potentes da música gaúcha e membro de uma banda em ascensão que rapidamente está ganhando as graças do Brasil. Potencial pro sucesso e pro estrelato indiscutível, e reconhecida ao lado de suas irmãs, namorado e amigos por um dos maiores nomes da música nacional. Sua luta começou e ainda há muito o que fazer.
20 de maio de 2012. Morre Robin, uma das vozes mais marcantes da música internacional e membro de uma banda que conseguiu, por três anos, o título de Maior do Mundo. Legado que contribuiu para o maior acervo de composições particulares da história. Reconhecido ao lado de seus irmãos como responsável por uma nova e proeminente cultura. Sua luta terminou e sua herança permanece.
Não saberia dizer se outros dias poderão se tornar icônicos iguais a este dia 20 de maio. Não sei nem se no futuro alguém dará tanta importância quanto a que eu estou dando. Mas se há algo que eu posso garantir, é isso: valerá a pena de um jeito ou de outro. Enquanto nomes importantes como esses continuarem escrevendo esses capítulos no curso da história. Até chegar o dia em que só teremos as lembranças, o coração seguirá cantando, pois a boa música nunca acaba. Os sentimentos por trás das obras nunca mudam. A única coisa que realmente é diferente são os poetas.
           Feliz aniversário, Maitê. Descanse em paz, Robin.