Tive
a chance de assistir à peça teatral “Adolescer” na noite de ontem (a saber, 28
de maio), e me surpreendi com o trabalho feito em cima do palco feito por aquele
grupo de atores. É simplesmente inegável o motivo do sucesso que essa peça
alcançou durante seus doze anos de existência. Uma comédia que cumpre seu
papel de comédia. Mais do que isso, um conjunto de esquetes que pode ser
renovado de acordo com a época apresentada. Porém, como eu não posso deixar o
olhar Católico Tradicionalista de férias, me vejo forçado a reconhecer alguns
pontos preocupantes que vi no espetáculo. Devido a isso, achei melhor sentar e
escrever este post em particular, pois não quis correr o risco de fazer
comentários soltos ao vento e ser mal compreendido depois. Dada a explicação,
deixo aqui minhas conclusões sobre os principais erros e acertos da peça
escrita e dirigida por Vanja Ca Michel. Como critério de apresentação, vou
expô-los na ordem em que as respectivas esquetes foram encenadas. Começo pelos
erros:
1-PROMOÇÃO
DO HOMOSSEXUALISMO: Dentre todos os tópicos, este é o único que não cito pela
cena em si, e sim por uma única frase. A esquete tratou da exposição da
homofobia, na figura dos três machões que vão zoar a cara do gay do colégio, o
qual responde brilhantemente ironia com ironia. Tinha um mensagem e até que foi
bem passada, se concordamos em acabar com o preconceito como um todo. Se terminasse
ali, não teríamos do que falar. Mas então veio o posterior monólogo da atriz Luisa
Ricardo, do qual extraímos o seguinte fragmento: “Homossexualidade não é pecado
nem doença”. Primeiro ponto: na esquete inteira percebe-se de longe o cuidado
de usar “homossexualidade” em lugar de “homossexualismo”, como se o último
estivesse incorreto de alguma forma, contextual ou gramatical. Isso é quase uma
assinatura de movimentos pró-homossexualismo. Segundo ponto: afirmar que
homossexualismo não é pecado seria simplesmente ignorar o que as Sagradas
Escrituras nos mostra em Lv 18, 22 ; Lv 20, 13 ; Dt 22, 5 ; I Reis 14, 24 ; I
Reis 15, 12 ; Mc 10, 6 e Rm 1, 24-27 sem deixar qualquer tipo de dúvida. A
menos, é claro, que as Sagradas Escrituras não possam ser levadas em conta em “Adolescer”,
e apresentar esse pensamento a uma geração inteira educada pelo PT e cuja
instrução se baseia nos filtros do MEC é algo realmente preocupante.
2-ESTIGMATIZAÇÃO
DOS OTAKUS: É curioso que um espetáculo que busque derrubar rótulos faça uso de
uma sátira tão clichê quanto os otakus e as otomes, o que acaba por confirmar
uma imagem que há muito eles tentam apagar. Apenas dois segundos de coreografia
me fizeram pensar “AnimeXtreme”, e de uma forma tão bizarramente infantil que
me fez, por um ínfimo instante, até mesmo sentir vergonha de ter 21 anos e
ainda apreciar esse mundo. Quase todos os momentos em que algum personagem
ligado à cultura japonesa – ou mesmo à própria geração cartoon em geral – aparecia,
o mesmo era um exemplo perfeito de retarda infantil vítima de bullying ou
simplesmente deixado de lado no grupo grande. Concordo que os fanboys de Naruto
estragaram demais a imagem que o mundo tem dos fãs de anime, mas reforçá-lo em “Adolescer”
foi, pra dizer o mínimo, estranho.
3-ABORTO,
O ASSUNTO NÃO RESOLVIDO: Durante doze anos de um espetáculo indiscutivelmente
bem sucedido, não sei dizer se a intenção de Vanja era dar respostas às
questões mais pertinentes da adolescência. Fato é que todas as esquetes
apresentadas em cima do palco apresentavam um problema e uma solução, exceto
uma: o aborto. Uma possível explicação pra isso talvez esteja no fato de que a
apresentação desse tema se deu de forma mais reflexiva se comparado com os
outros temas mostrados. E também de maneira bem simples: um casal que se
encontra e a menina revela que está grávida. Os dois param e começam a surgir
vozes com ideias, gozações e opiniões diversas. Destaco duas: “Se eu fosse tu,
eu tirava” e “Tu teria coragem de matar teu próprio filho?”. Os dois lados
devidamente mostrados, sem criar nenhuma espécie de debate. Ao fim, o casal
foge, sem nenhuma palavra sobre que atitude tomarão no futuro. Alguém poderá
argumentar que, em uma cena posterior, a questão do aborto é enfim resolvida: há
um grupo em um elevador que sobe até o terraço de um edifício com a intenção de
se matar. Dentre eles, um casal em que a menina está grávida. A ascensorista
desse elevador, além de resolver as pendências dos outros suicidas, se oferece
pra ser a madrinha daquela criança, salvando-a do assassinato. Não posso levar
isso em conta como uma solução mostrada pela peça, porque o foco dessa esquete
não era o aborto em si. Este simplesmente embarcou na onda dos outros problemas
e foi resolvido por uma terceira parte.
Se eu
encerrasse meu post por aqui, muitos começariam a pensar que eu não gostei de “Adolescer”.
A verdade é que eu sei apreciar um bom trabalho quando eu vejo um. E mesmo
tendo as falhas que mostrei anteriormente, considero que “Adolescer” é sim um
bom trabalho. A essência pareceu praticamente intocada durante doze anos,
sofrendo alterações tão leves que a passagem do tempo não conseguiu atingi-la. Isso
é algo a ser admirado. Dito isso, posso passar aos acertos:
1-A
COMÉDIA PURA E SIMPLES: Uma fórmula difundida pelo mestre Roberto Bolaños pode
ser identificada em “Adolescer”: o humor que se esconde no mais básico do
cotidiano. Exceto nos momentos em que era realmente necessário passar pelos
baixos da tragédia, o espetáculo se mostrou extremamente satisfatório em se
tratando da facilidade do riso. Nesse ponto é preciso dar créditos ao nome de
Anderson Vieira, sem dúvida o ponto alto da noite (sem desmerecer, de forma
alguma, a excelente atuação do restante do elenco). As comédias visual e verbal
casaram de forma harmonicamente perfeita. Mesmo as poucas piadas previsíveis
que vi encaixaram de forma tão natural que o público não tinha qualquer outra opção
a não ser lavar a alma rindo.
2-VALORIZAÇÃO
DA FAMÍLIA: Nessa atualidade, em que constantemente vemos a base familiar ser
atacada ao ponto de quase ser desfeita, é um alívio bem-vindo ver uma defesa da
parte de um nome tão poderoso. De todas as mensagens visuais que eu já vi,
nenhuma expressou tão bem o que é verdadeiramente o Quarto Mandamento posto em
prática do que o final de “Adolescer”. Aliás, família foi o assunto mais
recorrente na peça inteira. Mesmo com o apontamento dos problemas mais graves
encontrados em um casamento e em um núcleo familiar, foi visível que tudo
convergia pra um único ponto: o diálogo aberto e o respeito mútuo. O abraço
final foi o exemplo perfeito. Nada mais há a ser dito.
Como
eu disse antes, se trata das conclusões de um Católico Tradicionalista em um
espetáculo aberto à opinião pública. Mesmo sendo ex-ator de teatro (e sentindo
sincera saudade do palco), não poderia avaliar “Adolescer” como um expert da
arte. A única coisa que posso dizer como fechamento é: se tiver a chance, vá
assistir. Então tu mesmo(a) poderá fazer tuas próprias impressões e concordar
ou discordar das minhas palavras.